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terça-feira, 31 de agosto de 2010

Gitâ às avessas


Às vezes você me pergunta
Por que é que estou tão calado
Gu, você não é mais você
Gu, eu preciso de mais, preciso de muito mais!
Procuro no espelho e encontro cicatrizes

Conflito. Eu sou conflito
Dividido entre o que quero e o que posso
Dividido entre o que sofro e o que causo
Falido, buscando fundos para seu resgate estipulado
E a quantia é alta, a quantia é tão alta

Impotência. Eu sou impotência
Incapaz de abandonar minha humanidade imperfeita
Incapaz de abandonar minha dor para curar a sua
De tirar o chapéu de bandido e vestir a capa de herói
E você precisa tanto de um herói

Arrependimento. Eu sou arrependimento
Por que arrisquei tão alto? Não deveria
Quando nos perdemos um do outro? Não sabia
Por que ameacei o belo? Não valia
Mas o brilho do ouro de tolo é tão forte quanto o de qualquer tesouro

Dor. Eu sou dor
Dor dilacerante, dor faminta
Minhas feridas, consequências minhas
Suas feridas, não suas sozinha
Mas minha dor é tão insuportável quanto a sua

Dúvida. Eu sou dúvida
Culpa. Eu sou culpa
Sou insônia, álcool, cigarros, palavras
Sou a imagem do que você quis um dia
Uma casca morta, fria, vazia

E tudo o que eu queria ser é o que você precisa agora.

[31/08/2010]

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Sirena


Cantaste a mais bela das canções, e tão docemente
Que padeci, amor ardente
Rápido, intenso, impossível
Como tantos outros marinheiros antes
Antes, depois, durante

Tu Sirena, a mais bela das Sirenas
Encontraste morada nas minhas ruínas
Mais afáveis que as páginas da  mitologia
Me enfeitiçaste como mulher nenhuma antes
Mulher não és – tens “Sirena” tatuado em teu semblante

Pisinoe se ajoelha frente à tua inteligência sádica
Teus feitiços fazem de Thelxiepia charlatã iniciante
Ligeia desafina ao som da tua doce voz
Aglaope, Leucosia, Parténope – irmãs menos prendadas
De ti, rainha de todas as Sirenas

Como derrotar uma Sirena?
Cantes melhor que ela”, já dizia Homero
Vencê-la em seu próprio jogo, suas regras
Pois fui teu Odisseu, te derrotei
Mas não sem feridas, não ileso

Em minha Odisséia o final ainda é incerto
Não há cais no horizonte
Nem louros à minha espera
Apenas o oceano inóspito, pleno, constante
E eu navego, mas levo uma certeza

A rainha das Sirenas perdeu seu trono
Pois este marinheiro escapou com vida.

[30/08/2010]

domingo, 29 de agosto de 2010

A Estrada e a Brisa


Tarde quente de Domingo
Procuro a vaga isolada no estacionamento
Paro o carro, Renato Russo ali comigo
A única Tempestade é a que ecoa nos meus ouvidos
Sol – sol e brisa
E a Estrada no horizonte

Você com ele, satisfeita
Ele nas nuvens, inebrado
Ela com as amigas, triste
E eu solitário, fumando e olhando a Estrada
A névoa da fumaça doce que me rodeia
A Estrada e a Brisa, únicas companheiras

Os carros passando, alheios a tudo
Alheios a mim, alheios ao meu sofrimento
O cigarro entre meus dedos, a brisa no meu braço
Alheia à névoa que brota dos meus pulmões dormentes
Corações partidos, feridas que não curam
Só a Brisa lambe meus ferimentos, complacentemente

Quando foi que tudo isso aconteceu?
Por que você não me assumiu?
Se até a Estrada, inerte e sólida
Se deixa percorrer por quem busca caminhos?
Se até a Brisa, tranquila e constante
Me afaga gentil, me presta carinho?

Hoje sento em um café desses tantos
De posse de meu papel e meu nanquim
Heranças suas, heranças da vida
E escrevo. Escrevo e reflito
Reflito e aprendo. Aprendo e me arrependo
E busco meu eu que você levou de mim

Somente a Estrada e a Brisa permanecem as mesmas.

[29/08/2010]

sábado, 28 de agosto de 2010

Palavras



A Poesia sempre me foi um mistério
O Amor sempre me foi tão claro
A Ética nunca me foi questionável
Até você surgir, empunhando foice e rastelo
E sementes do amor mais belo


"As coisas vem e vão, mas NUNCA em vão"
Você se foi e levou tudo, mas deixou algo para trás
Não foi esperança, não foi amor
Não foi consideração, não foi saudade
Não foi vontade de te ter, não de verdade


Palavras. Você me deixou as palavras
Me deixou poesia, uma poesia dolorida
E eu tenho encontrado nessa poesia
Opções, esperanças, alternativas
Escapismo para minha dor que é sua


Purificação. Você me deixou purificação
Escrevo sobre o que você plantou em mim
Solo propício para suas mentiras
E agora as colho, em forma de palavras
Colheita ruim, colho e queimo


Meu Amor por ela. Você nunca me tirou dela
Mas plantou a dúvida, semeou a discórdia
Solo inóspito que eu era
Encontrei em você jardineira sagaz
E você plantou. Mas não imagina o que


Palavras. Estas são suas palavras
Aproveite-as, deleite-se
Porque serão elas sua única vitória
Vitória tão falsa quanto suas intenções
E lembre-se sempre, nunca se esqueça


Eu não quero seu amor
Eu não quero suas desculpas
Não espero por seus motivos
Eu só busco redenção, não com você
Mas de você, sem você


E se para tanto minha única companheira for a Solidão
Serei solitário, porém livre
Livre de você, livre destes sentimentos todos
Sentimentos que não são meus
Que logo não serão nada, apenas palavras


Palavras. Solidão falsa – eu sempre terei as palavras.


[28/08/2010]

Sentença



Você veio, chegou, entrou em mim
Entrou e ficou, se apoderou de tudo
E eu quis, quis ser seu, quis seu resgate
Seu coração, seus beijos, sua alma
Quis ser salvo do meu paraíso em chamas


"Gu, vamos fugir?– "Vamos!"
A noite acabou e você teve que fugir sem mim
Você não me salvou, não me levou
Me deixou aqui, nas ruínas da minha vida
Nas garras de um carrasco ferido, vingativo


Tenho tantos carrascos, Natália, tantos
Eu mesmo em minha culpa
Você em sua indiferença
Ela em busca do meu último suspiro
E eu suspiro, eu só suspiro


"Eu vou te trazer sua mulher de volta"
Você não trouxe, você não deixou nada
Quando se foi, sem satisfação ou consideração
Você me deixou a loucura -- apenas a loucura
Você me abandonou nas garras de mim mesmo


E hoje, minha Natália – Natália do mundo
Aqui estou, perdido
Perdido nessas palavras doloridas
Nesse amor que não existe
Nessa vida que foi tesouro, mas que agora é vingança


Hoje, Natália, sou prisioneiro
Hoje sou criminoso, sem advogado e sem clemência
Hoje você é carcereira, e levou a chave da cela
Hoje ela é torturadora, e conhece meus pontos fracos
E eu estou tão fraco, Natália, tão fraco


Gustavo Oliveira – culpado em primeira instância
Sentenciado a uma eternidade de sofrimento acompanhado
Executado pelas duas damas que mais amou em vida
Que Deus tenha misericórdia de sua alma
Que assim seja, amém


Sem paz, pena de morte em vida a quem ousou amar demais.


[28/08/2010]

Síndrome



Amar quem me faz mal
Tua herança, meu castigo
Desvendei tuas mentiras 
Vislumbrei tua verdadeira face
Estudei teus métodos
E mesmo assim não consigo te esquecer


Sabes o que é amar uma imagem construída?
Sabes o que é se entregar a sentimentos inexistentes?
Encontrar amor verdadeiro onde verdade não há?
Preservar palavras vazias como tesouro de uma vida?
Perder a razão sem razão?
Não sabes – e nem assim consigo deixar-te ir


Enquanto chafurdas em amor pleno
Eu sofro as nossas consequências
Enquanto te esqueces do meu nome
Eu tento te deixar para trás
Enquanto entregas tua graça a outro
Eu nem mesmo quero deixar de te amar


Captora de minha alma, meu amor e minha carrasca
Ainda te amo – não posso!
Ainda te quero – não devo!
Ainda te perdôo – não quero!
Ainda te busco – não encontro!
Mas não consigo deixar de te buscar


Você, para sempre minha Síndrome
Vou-me embora para Estocolmo, lá não conheço o rei
Lá a mulher que quero ainda é você
A cama que escolherei ainda é a sua cama
E mesmo sabendo que tudo não passa de cruel ilusão
Eu não resisto ao desejo de trocar minha realidade por você.


[28/10/2010]

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Tudo


Tudo o que eu sempre quis foi o teu bem
Decisões erradas, fragilidade exposta
Fraqueza, te procuro – cadê?
Solidão, te preciso – onde está?
Problemas, tantos problemas...

Tudo o que eu sempre tentei foi salvar o mundo
Seu mundo, meu mundo, o mundo dela
Sem magoar ninguém – ir além
Acertar errando
Mentir honestamente
Viver o presente, o amanhã não nos pertence

Tudo o que eu sempre quis foi cometer o crime perfeito
Com comparsa, sem vítimas
Mártir e vilão, presenças íntimas
Eu e você, você e ela
Você e ela, ela e eu
Nos encontramos, três almas desencontradas
Feridas, perdidas, desamparadas

Tudo o que eu sempre quis, e somente tudo
Foi te ver feliz
E da minha infelicidade fazer tua felicidade
Busquei amizade, busquei redenção
Promessas de honestidade, intenções de traição
Intenções? Talvez não
Confusão, decepção, ilusão
Sua desonestidade, minha perdição

Eu quis tudo, tudo o que não cabia querer
E por isso me perdi, me perdi sem perceber
Me perdi de mim, assim – em seu amor sem fim
Em seus lábios carmim
Em seus olhos de nanquim
Em seu sotaque “mineirim”
Em seus beijos de jasmim
Em seu colo, meu tato no seu brim
Seus cabelos – me perdi, enfim
E foi assim – seu sim, meu fim

Eu não quis nada de você, só quis você
Só quis a verdade – e como implorei!
Só quis saber – e como perguntei!
Só quis entender – e você não me explicou
Só quis tua luz – e você me manteve no escuro
E aqui é tão escuro, tão escuro
Sombrio, inerte, duro

Eu nunca fui tudo o que você quis – fui?
Se fui, quando deixei de ser?
Se não fui, quando me deixaria saber?
A verdade, Natália, somente a verdade – preciso!
Silêncio, minha eloqüente resposta
Mentira, minha leal companheira
Escuro. Está tudo tão escuro...

Tudo o que eu sempre quis foi abrir mão de você pra te fazer feliz
Mas a certeza de um padecimento nobre – nem isso
A oportunidade do sacrifício derradeiro – nem mesmo isso
Você quis me conceder.


[26/08/2010]

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Catarse

Música sugerida para a postagem:



Às vezes eu me pego pensando
Que a culpa foi minha, toda minha
Que eu te afastei, ou te deixei afastar
Quando você esperava que eu lutasse, implorasse
Que você ficasse comigo para sempre
Eu só fiz deixar-te ir embora


Às vezes eu me surpreendo desolado, imaginando
Se não poderia ter sido diferente
Se você não estaria ao meu lado, me amando
Se eu tivesse desrespeitado seu espaço
Se eu tivesse te desejado só pra mim
Se eu tivesse sido menos compreensivo
Menos adulto, mais egoísta
Menos racional, mais impulsivo
Se eu não tivesse sido o homem que eu sou
O homem que você sempre soube que eu sou


Às vezes eu volto a acreditar em tudo
Tudo o que você dizia
Tudo o que dizia que sentia
Tudo o que você sentia e me fazia
Tão bem, sempre tão inexplicavelmente bem
Tudo o que te fazia bem também


Às vezes, e só às vezes
Eu ainda sou apaixonado por você
Eu ainda luto contra a minha razão
Eu ainda questiono seus motivos, suas mentiras
Eu ainda contesto a sua culpa
Eu ainda assumo uma responsabilidade que não é minha
Mas que você deixou aqui comigo


Às vezes eu me esqueço das conseqüências
Conseqüências, minhas únicas companheiras
Deixadas para trás como as páginas de um livro velho
Que conta a nossa história, uma história ilusória
Deixadas para trás como eu


Às vezes sinto falta do teu colo
Às vezes esqueço que você jogou comigo
Às vezes renego minha catarse
Às vezes, mas tantas vezes, te quero de volta
Às vezes tenho vontade de gritar


Só às vezes. E ainda assim, vezes demais.


[25/08/2010]

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Eclipse



Mensagens simultâneas
Na, viu que lua mais linda?
Gu, olha a lua que linda!
A Lua, nossa testemunha
Desafiadora, inexplicável
Acima de eu e você
Acima de qualquer clichê de amor
A Lua. A nossa Lua

Cheia, como as nossas promessas
Iluminada, como o teu rosto
Solitária, como a conseqüência de você
Plena, como o nosso amor
Como o meu amor, só o meu

Nossa história, curta como um eclipse
Mas eu não consigo mais olhar a Lua Cheia sem chorar.

[24/08/2010]

Inviolável



No começo eu só queria uma amiga
Alguém pra conversar, me ouvir
Me aconselhar, me apoiar
Momentos difíceis, amores em risco
Te procurar? Proibido, inaceitável, pecaminoso
Mas eu fiz. E te encontrei
Encontrei teu colo, teu conforto
Teu amor incondicional – que eu nunca pedi
Tua entrega plena – que eu nunca esperei
Tuas asas de anjo – você entregou a mim
Anjo caído, as penas aos meus pés

Você me amou, você dizia
Eu não queria, eu não podia
Amor puro, amor de uma vida
Gu, te amo mais do que já amei qualquer coisa
Amiga, amante, razão da minha existência
Eu seu único homem, seu único amor
Sua única razão – não
Apenas mais um. Simultaneamente mais um

Eu e outros, sempre os outros
Ele é louco, desequilibrado
Ele me persegue, me assusta
Ele é obcecado por mim
E tantos, tantos eles
Por que tantos eles?
Suas palavras, meu éter
Inebriado, enganado, apaixonado
Sua liberdade por sua honestidade
Essa sempre foi a única condição inviolável
Mas sua própria violação lhe tirou o respeito pelo inviolável

Me entreguei
Me rendi
Me escancarei
Me tornei seu – seu e dela
Mas irremediavelmente seu
Inquestionavelmente seu
Unicamente seu
Seu pra sempre
Seu para o quisesse, o que fizesse
E você me fez. Me fez mais um
Me fez jogar sem saber as regras
Me fez de idiota, me fez de troféu
Adversário e troféu

Gu, eu não jogo
Você joga com vidas
Gu, você é único
Único a te desmascarar
Gu, com você não tenho filtros
Com todos você tem filtros
Gu, eu não quero roubar você pra mim
Você me roubou de mim, roubou minha dignidade

Ontem você conduzia meus sonhos mais verdadeiros
Hoje você protagoniza meus mais cruéis pesadelos

[24/08/2010]

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

As Flores do Mal (Legião Urbana)




Eu quis você
E me perdi
Você não viu
E eu não senti
Não acredito nem vou julgar
Você sorriu, ficou e quis me provocar
Quis dar uma volta em todo o mundo
Mas não é bem assim que as coisas são
Seu interesse é só traição
E mentir é fácil demais
Mentir é fácil demais
Mentir é fácil demais
Mentir é fácil demais
Tua indecência não serve mais
Tão decadente e tanto faz
Quais são as regras? O que ficou?
O seu cinismo essa sedução
Volta pro esgoto baby
Vê se alguém lhe quer
O que ficou é esse modelito da estação passada
Extorsão e drogas demais
Todos já sabem o que você faz
Teu perfume barato, teus truques banais
Você acabou ficando pra trás
Porque mentir é fácil demais
Mentir é fácil demais
Mentir é fácil demais
Mentir é fácil demais
Volta pro esgoto baby
e vê se alguém lhe quer

Caso de estudo


Confiança, carinho, identificação
Rápido, tudo muito rápido
Você surgiu como um sonho materializado
Uma poesia saída do papel
Uma solução de outra forma inalcançável
Nós juntos, algo impensável
Tudo ia muito rápido

Você me lia – eu não sabia
Se moldava segundo as minhas expectativas
Detalhes – sempre atenta aos detalhes
Meus desejos, meus gostos, meus sonhos
Seus dados, seu baralho, suas peças
Minha fragilidade, minha carência, minha fraqueza
Seu tabuleiro, seu campo, sua estratégia
O jogo jogado muito rápido

De dama a puta a donzela a vítima
Segundo, apenas segundos
Bailarina, administradora, empresária, psicóloga
A melhor das psicólogas
Filha, esposa, amiga, amante
A melhor das amantes
Me apaixonei rápido

Perfeita, apenas perfeita
E eu não notava. Achava
Você – era tudo você
E na verdade eu me apaixonava
Por mim – eu segundo o seu estudo
Rápido – meticuloso e rápido

A revisão bibliográfica, as citações
O resumo, a introdução, as conclusões
O seu modelo do meu amor
Os seus gráficos tão gráficos
O seu experimento tão bem conduzido
E tantas vezes conduzido
Sempre rápido. Limpo é rápido.

Cobaia ruim... melhor descartar
Pega outra na gaiola, rápido!
Aparelhos expostos, soluções preparadas
Seu amor a conta-gotas – minhas gotas
Meu coração na bandeja – sua bandeja
Não dá pra parar agora. Outra cobaia.
Rápido, preciso terminar rápido.”

O fracasso não é uma opção
Tempo, dinheiro, energia
Resultados, onde estão os resultados?
Deu errado. Outra cobaia.
Cobaia boa. Traz para a central.
Mas traz rápido.

Escapou. Enquanto você jogava Alquimia
Enquanto você brincava de cientista
Uma cobaia escapou
Cobaia ruim, a pior das cobaias
Cobaia teimosa, comprometida
Cobaia cega, burra, lenta
Mas as cobaias também sofrem epifanias
E epifanias nem sempre são rápidas

Já era hora de uma cobaia superar a cientista
Mas as cicatrizes causadas por seu bisturi jamais desaparecerão.  


[21/08/2010]

Jogos de tabuleiro


Espaço, tempo, preciso pensar
Estou confusa
Não sei o que quero, o que posso
Espaço, respeita meu espaço!

Dou o tempo
Respeito o espaço
Pense o quanto precisar
Respeito, acima de tudo respeito

Silêncio – apenas silêncio

Noites em claro
Cigarro após cigarro
Trabalho?
Rotina?
Vida?
Desconheço, padeço

Mas tenho o silêncio

É só brincadeira – bobeira
Ele? Amigo – só um amigo
Você? Amor – fervor
Marido? Carcereiro – rueiro
Só preciso de espaço, só preciso pensar

Você não pensa, planeja
Seu espaço não é seu, é dele
Sua confusão é clareza minuciosa
Sabe o que quer, sabe o que pode
 
Criminosa! Devassa! Fria!
Como pude ser tão cego?
Como pude ser tão inocente?
Como pôde ser tão egoísta?
Como pôde ser tão mentirosa?

Jogadora, blefadora

Pois me faço em adversário à altura
E do alto da minha amargura
Encontro forças para ler as regras
Aprender os truques

Agora sei jogar dados
Agora sei as estratégias
Conheço as cartas
Conheço o tabuleiro
Conheço os jogadores
Agora sei jogar

Só não sei jogar com vidas – mas isso você aprendeu por nós três.


[20/08/2010]