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quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Hoje


Hoje... outrora tão distante
Quando o plano era incerto
Você tão longe e tão perto
Meu desejo encoberto
Minha vontade causticante

Hoje... você me disse
Seria parágrafo de nossa história
A consumação comprobatória
De traição tão assim, simplória
Você minha, se eu pedisse

Hoje... celebração do amor
Que você me proclamava
Enquanto eu me apaixonava
Minha alma, sua escrava
Desejava seu calor

Hoje... inconsequência e desatino
Meu coração inquieto disparado
Eu num café qualquer sentado
Você parando bem ao meu lado
Beijos, suspiros – era destino

Hoje... marca o calendário o dia enfim
Mas a mentira destruiu o sonho
Mas a ilusão se desfez em realidade
Mas a ansiedade se foi em apatia
E aonde está você agora além de aqui, dentro de mim?

Hoje... eu jamais esquecerei esse “hoje”.

[06/10/2010]

domingo, 3 de outubro de 2010

Apatia


Tudo passa, não passa?
A vida passa, o tempo passa
A dor não passa – só me abraça
Esperança escassa, tanta desgraça
Não vejo mais graça, não vejo opção...

Quem é você no espelho?
O que procura nessa realidade torta?
Não sei se na cama ou na porta
Busco traços da esperança já morta
Busco o caminho da salvação...

Vida... quando foi que te perdi?
Areia por entre meus dedos
Escorre e só deixa medos
Frutos de enganos ledos
Lembranças de errada paixão...

Felicidade... mas que saudade!
De quando não sabia o que sei agora
Quando vislumbrei e me levaram embora
Tão belo tesouro – outrora
Hoje resquícios de mera ilusão...

Tudo passa, a vida passa, o tempo passa
E eu... eu não passo, desconheço meu rumo
Passo os dias – acordo, escrevo, fumo
Passo as noites – recordo, bebo, durmo
E apenas sobrevivo, sem motivo, sem razão...

[04/10/2010]

sábado, 2 de outubro de 2010

Um dia



Um dia... um dia

Essa dolorosa poesia se fará em prosa de alegria
Essa impiedosa melancolia será saudosa nostalgia
Da perigosa fantasia – como tua voz a proferia
Em harmoniosa melodia, hoje ruidosa arritmia
Da tua rosa que florecia em frondosa alegoria
Com jocosa apatia – portentosa e fria
Apenas escabrosa demagogia da tua habilidosa psicopatia

Um dia, mas não hoje. Um dia...

[02/10/2010]

Duas coisas


Duas palavras, duas intenções
Te amo” – cumplicidade e ilusões
Te” – enredo, desfaço, engano
Amo” – o jogo, a conquista, o plano

Duas musas, duas doenças
Que me acometem sem ao menos serem minhas
Psicose – O amor como peça de um tabuleiro
Depressão – A realidade como pesadelo, leal companheiro

Duas ausências, duas tristezas
A dor é sempre maior em quem fica
A presença que se foi sem deixar vestígio
A sanidade que se faz necessária para o alívio

Duas vontades, duas sentenças
Impiedosa é a punição para quem ousa amar demais
Paixão e destino – você me dizia
Amor e segurança – você me trazia

Duas existências incompletas, uma alma destroçada
O poeta errante que chora lágrimas de negação
O porto-seguro inseguro de quem perdeu o próprio chão
E de mim não resta nada – apenas dualidade indesejada...

[02/10/2010]

Todo poeta


Todo poeta conhece a dor de ser poeta
Buscar nas palavras inertes algum alento
Buscar na pena o esquecimento, mesmo que por um momento
Encontrar alívio temporário para o sofrimento
Preenchimento pobre para o vazio tão presente

Todo poeta sabe que é menos humano
Do que as pessoas que por ele passam, dia após dia
Sem notarem em seu semblante aleijado a fingida alegria
Sem notarem o que foi outrora, quando desconhecia
A companhia de quem levou consigo o seu sorriso mais sincero

Todo poeta espera por alguém que nunca chega
Capaz de arrebatá-lo do inferno e levá-lo além
Curar-lhe as feridas expostas deixadas por quem
O fez completo um dia e se foi com desdém
Mas ninguém pode – o antídoto é posse de quem envenena

Todo poeta conhece a face da sua musa
Conhece o jeito, conhece o cheiro, conhece a voz
De quem apresentou-lhe às palavras – inspiração atroz
E por ela vive, por ela morre – anjo e algoz
A foz do rio disfarça em beleza a força da correnteza

Todo poeta arde em palavras reclusas
E as faz dançar conforme sua própria música torta
Sinfonia de amor errado que a ninguém importa
Mas que toca incessantemente em sua alma quase morta
E corta o silêncio que outrora lhe trazia paz de espírito

Todo poeta, enfim – poeta de fato
É um fugitivo de sua própria realidade
É um rascunho de sua própria desumanindade
É antagonista de sua própria felicidade
É criatividade, paixão e consequência

Que nas palavras encontra reminiscência da vida que o abandonou.

[02/10/2010]