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quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Poesia de cego


Escrevo o impublicável
Sinto o inexplicável
Culpa inominável
Esperança interminável
Um ser abominável – Poeta cego, muito prazer

Querer não é poder – é apenas padecer sem ter
Sem ser, sem sentir, sem nunca saber
Se algo foi verdade, se algo existiu enfim
Se você partiu na calada da noite, assim
Por temer a dor do fim, por campaixão por mim

Será que inventei teu amor por mim – para me destrair?
Será que minha vaidade é assim tão traiçoeira?
Será que escrevo poesia de cego, afinal?
Sei as respostas, mas renego – não quero, não pode ser...
Fujo à realidade dolorosa como fiz tantas vezes antes

Mas antes, tinha seu anestésico no meu sistema
Antes, tinha você ao meu lado
Dizendo que tudo ficaria bem
Que tudo seria como tivesse que ser, ação do destino
E eu acreditava... padecia, confiava – me entregava

Me permitia tanto... tanto... e não pensava
Nas consequências, ou pensava – mas imaginava
Que era destino, estava escrito – não havia escapatória
E na sua teia ilusória me vi rendido, perdi os sentidos
Mas a aranha não tinha intenção de aniquilar a presa

E hoje... ah, hoje cá estou
Enredado feito inseto indefeso
Lutando pela vida que já se foi, veneno inoculado
Inoculado em excesso planejado
Por crueldade apenas – seu desejo saciado

A aranha deixou seu lar... e eu, cego e perdido, luto por me libertar.

[29/09/2010]


[Inspirado em "O Nosso Amor A Gente Inventa", de Cazuza]

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O final de todas as histórias


Há de saber o poeta quando a poesia finda
As palavras se recolhem, verbetes em luto
As idéias se despedem, exaurida é a mente
A pena recusa o nanquim, arranha o papel
Na mão dormente a escrita vã se faz presente

Há de sofrer o amante quando o sentimento acaba
A paixão míngua, o coração perde o compasso
Os suspiros se calam, os olhos opacos
A memória falha, os detalhes se perdem
O rosto da musa se dissipa em inevitabilidade nostálgica

Há de erguer o soldado a bandeira branca
Desistência solitária de quem abandona um ideal
Consciência libertária, farda despida afinal
Rifle ao chão, comandante deposto
O herói de guerra abandona seu posto, seu lar

Há de chorar o adeus o viajante incerto
Que deixa para trás o que lhe foi tão precioso
Parte sem rumo em busca de novas vivências
Deixa saudades em quem acena ao horizonte
E não olha para trás – o andarilho segue em paz

Quando a página derradeira é alcançada
O conto há de terminar – final há tempos escrito
Assim é toda história contada, conto de fadas
A página derradeira também merece ser virada
Há de encontrar seu destino a contra-capa saudosa

Pois não há paz aos que renegam o fim de todas as histórias.

[23/09/2010]

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Sobre "Ses"



Se eu te escrevesse algumas linhas
Relatando meu sofrimento abominável
Pedindo notícias, sonhando palavras perdidas
Será que responderias?
Ou a leitura enfadonha da minha dor não te interessa mais?


Se eu te telefonasse sem aviso
De improviso, cedesse à saudade do teu sotaque
Buscasse tua voz uma vez mais, impulso fulgaz
Será que atenderias?
Ou tua mudez indiferente faria meus ouvidos sangrarem?


Se eu te procurasse novamente, tão somente
Para calar minha irracionalidade teimosa
Buscasse em tuas mentiras a paz falsa de outrora
Será que me receberias?
Ou darias as costas a quem se prostra em desespero latente?


Se eu estivesse disposto a te ouvir
Conhecer tuas razões, explicações, motivos
Descobrir se existiu algo, algum dia, qualquer coisa
Será que me dirias?
Ou tua verdade é tão hedionda que não pode ser partilhada?


Se eu te cedesse um lugar em minha vida
Não como antes – retorno triunfante, não obstante
Arrancasse os tapumes da porta que encerrei atrás de mim
Será que voltarias?
Ou a distância que me corrói é teu prêmio auto-proclamado?


Se eu me fizesse em poeta escapista
Libertasse em versos sentimentos enclausurados
Alforriasse minha alma com poesia reacionária
Será que te compadecerias?
Ou a poesia de quem por ti sofre alimenta tua jocosidade sombria?


Linhas, telefone, procura
Ouvidos, portas, poesia
Nada importa, teorias vazias
As respostas que conheço e renego
São as que se fariam em retumbante agonia


Teus “Ous” para os meus “Ses” – “Será” algum me darias.


[20/09/2010]

sábado, 18 de setembro de 2010

Pensamentos de rádio


Há dias em que você volta
Senão em sonho, em memória persistente
Em dias assim, nem a música me distrai – ela me trai
Me traz mais lembranças que conforto, me traz você
Quando o rádio se alia à sua insanidade, minha obsessão

Joan Baez nota meu desespero quando percebo sua presença
Well I'll be damned, here comes your ghost again
But that's not unusual, it's just that the moon is full
Fantasma teimoso que insiste em não me deixar
O tempo que não passa, sua face me ameaça

Devo fugir, devo esquecer
De você, de nós, de tudo
Devo deixar para trás o que nunca foi
Mas como, quando até as canções – minhas amigas
Se fazem cantigas da nossa ciranda?

Renato Russo me dá razão sobre a paixão
A paixão já passou em minha vida
Foi até bom mas ao final deu tudo errado
Mas tudo agora é coisa do passado
Mas não, não quero estar apaixonado

Não quero, não devo, não posso
Busco apenas paz, quero apenas sua ausência
E espero, luto, peço clemência
Cadência lenta, indecência
Sua paixão indecente não se apressa em me deixar

E mesmo quando Cazuza chama, me proclama
Que “O teu amor é uma mentira
Que a minha vaidade quer
E o meu, poesia de cego
Você não pode ver

Mesmo então eu imagino se não poderia
Ter sido diferente, ter restado algo da gente
Amizade, carinho, compaixão – não
Cazuza sabia da sua diversão patológica
Destruir vidas, roubar corações – brincadeira ilógica

Mas aprendi com você, mentora cruel
O nosso amor a gente inventa, pra se distrair
E quando acaba a gente pensa que ele nunca existiu
E te peço do fundo da alma que me deixe
A distração acabou, nada mais restou – não era pra ser

O que não era pra ser: Vou fugir dessa dor.
Meu amor, se quiseres voltar - volta não
Porque me quebraste em mil pedaços.”

[18/09/2010]

[Trechos em itálico respectivamente extraídos de: "Diamonds & Rust" (Joan Baez), "Longe do Meu Lado" (Legião Urbana), "O Nosso Amor a Gente Inventa" (Cazuza)"Mil Pedaços" (Legião Urbana)]

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Aquele dia


Às vezes me surpreendo revivendo aquele dia
A noite em claro, a espera, a procura
A necessidade pela verdade, a insanidade
Desespero
Quebrei teu silêncio, clamei por realidade

PRECISO saber o que está acontecendo
Aguento o tempo, o espaço, também.”
Mas não o silêncio, isso não aguento
Chega de silêncio. Chega de ficar no escuro
Não, eu não me importo com a minha dignidade

Você irredutível.

Me trate como o homem que sou e te ama mais do que achou ser possível.
Prometo sumir da sua vida se vc quiser.
Prometo que nunca mais te procuro.”
Prometo te desejar só o melhor.
E prometo, se for sua vontade, te esperar se vc me pedir.

Você impassível.

Sua resposta veio fria, calculista, arredia
O rosto que eu conhecia ainda me traía
Gu, o que você quer saber?
Apenas as regras do jogo
Gu, não tenho nada a dizer...

Insisti, implorei, me humilhei
Pela verdade que eu já conhecia, confirmação
Desilusões amorosas conheci tantas, superei todas
Tua mentira é que me dilacerava
Palavra após palavra

Por que você me enganou assim, com que fim?
Te livrei da culpa, te dei todas as opções
Por que você insistiu na ilusão, sem compaixão?
Te livrei das minhas amarras, abri sua gaiola
Você não voou, fingiu asa quebrada, fingiu ser minha

Mentiras injustificáveis
Mente aquele que tem medo de perder
Você não tinha nada a perder – a não ser
O prazer de me ver esmorecer
Sua vitória na minha derrota

Eu não pedi o mundo, não pedi você
Só pedi sua honestidade naquele instante derradeiro
Meu último suspiro de cavalheiro
Pedro negou Cristo três vezes – você me negou tantas mais
E mesmo Judas se curvaria diante do seu cinismo sagaz

E hoje, Natália, busco esquecimento
Esquecer o rosto que vi naquele último dia
A face de demônio que devorava o anjo que eu conhecia
Que se revelava autoritária, incapaz de perder
Incapaz de sentir, apenas de mentir por prazer

Meu amor, a Psicopata
Incapaz de reconhecer o valor do amor verdadeiro
Incapaz de conceder clemência ao desesperado
Incapaz de sentir compaixão no leito de morte
Incapaz de ser humana, de libertar a marionete

E que a marionete encontre forças para romper os próprios barbantes.  

[16/09/2010] 


[Trechos em itálico extraídos do email mais importante do mundo]

Despedida


Se eu abandonar este mundo
Saibam que abandono também a dor
Sofrimento, desespero, tristeza
E assim, encontro a calmaria que aqui perdi

Se eu não suportar este fardo
Lembrem-se de que não mais o carregarei
O peso será retirado das minhas costas
À medida que a vida se esvai do meu corpo

Se eu simplesmente não mais acordar
Não chacoalhem em desespero meu corpo vazio
Deixo sonhos que não tive tempo de sonhar
Deixo os sonhos – mas me liberto dos pesadelos

Se meu coração enfim falhar
Saibam que não foi sem ter batido
Bateu muito, bateu forte, bateu errado
Bateu por mais do que se permitia, até que cedeu

Se eu desistir dessa vida
Tenham a certeza de que não foi por minhas mãos
De que não foi planejado, realizado – isso não
Foi apenas a vida que desistiu de mim, e se foi enfim

Pois se a paz é dos que se vão, ao menos não terei partido em vão... 


[16/09/2010] 

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Boemia


Insônia, palavras, cigarro, álcool
Palavras-chave do rascunho da minha vida
Introdução bela, conclusão incerta
Objetivo confuso, autor recluso

Na boemia encontro reconforto escuso
Escrevo porque preciso, palavras de improviso
Descrevo e abordo o amanhã indeciso
Noites passam, dor não passa, me esqueço da cor do meu sorriso

Busco forças, busco razão
Encontro emoção – razão não
Poesia ou artigo ou sermão – senão
Testamento – palavras de solidão

De quem encontra na própria derrota apenas nova ilusão.

[15/09/2010]

Ilusões


Depressão clínica, desistência patológica
Reconforto não encontras – apenas o colo do inimigo
Paz de espiríto não há – nem por um segundo sequer
Amor não se vê – restou algo além da dor?
Sintomas ou realidade – dúvida que me reduz à insanidade

Vidas que se perdem em vis ilusões
Minha ilusão de amor perfeito que me rouba as esperanças
Tua ilusão obsessiva de que não há razão para esperanças
Passeio de ilusão em ilusão, quando só bucava a realidade
Realidade não encontro – apenas desespero, obscenidade

Vítima de duas loucuras que não são as minhas
Vítima da vilã e da mocinha, minh'alma definha
Vida, memórias, porto seguro
Não tenho, falsas, necessito
Busco no espelho e vejo cicatrizes de um desconhecido

Não há sofrimento que dure para sempre
Mais uma ilusão, talvez – não sei
Na ilusão não existe tempo, não existe sempre
Não existe esperança, não existe escapatória
Apenas a certeza de uma cura ilusória

Mas a cura nunca chega, promessa
Nunca cumprida, bálsamo
Nunca alcançado, perdão
Nunca concedido, realidade
Nunca recuperada – para sempre perdida

Ilusão mais bela, ilusão terrível
Pouco importa – realidades tortas
Que exaure minhas energias
Mitiga minhas esperanças
Me faz menos humano dia após dia

Roteiros mal feitos sobre um protagonista condenado.

[15/09/2010]

Eu contra você


Dia após dia, agressão após agressão
Crise após crise, nem sinal de reconciliação
As lágrimas secam, as memórias perduram
As feridas se fecham, as cicatrizes são eternas
Saudades de tempos menos abrasivos

Corpos que se reencontram após longa ausência
Se tocam, se reconhecem, se reconectam
O êxtase inebria almas desencontradas
Almas desconhecidas, desfiguradas
Tua navalha amolada na aspereza da minha traição 

Teu sofrimento agravado pela tua doença
Meu sofrimento agravado pelos teus sintomas
Mas aqui estou, o causador da tua desgraça
Responsável pela tua queda, tua derrota
Me mantenho ao teu lado, teu único soldado

Soldado solitário de uniforme ordinário
Resisto como posso, guardo o que é nosso
Defendo o que restou contra a tua insanidade
Temporária, corrosiva, reacionária
Te defendo de si própria, te resgato de meus atos

E no entanto sei, reconheço e esmoreço
O último disparo há de me encontrar
Teu cruel inimigo, teu leal soldado
Há de ser abatido – paz merecida!
A paz que te traz minha morte em vida

Pois não há soldado que resista ao disparo de um rifle aliado.

[15/09/2010]

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Tempo perdido


Um dia você apareceu em minha vida, hesitante
Mulher travestida em anjo de luz, radiante
Abdiquei de minha discrição, sensatez
De minha honestidade, minha paz
Fiquei cego, não nego, enfim
Cego por você, perdido
Arrisquei o precioso
Por ilusão cruel 
Amor falso
Agora vejo
Sonho sonhado
Acordei do pesadelo
Pesadelo frio, planejado
Só realidade dura aguardava
Busco minha paz, não a encontro
Levou minhas esperanças, deixou dor
Demônio travestido em mulher, inebriante
E que o tempo me liberte da lembrança de você  

[14/09/2010]

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Última parada



Cá estou novamente nesta parada
A última parada, o rumo conhecido
Aqui já estive antes, e não obstante
Ostentava outros sentimentos, outra realidade
Distintos dos que me acomentem hoje sem piedade

Sentado na mesma guia, observo a mesma padaria
O sol que me açoita é o mesmo
O rosto que me assombra é o mesmo
O sentimento que experimento é tão outro
Tão outro, dolorosamente outro

Aqui sentei um dia repleto de esperanças
Sonhos, anseios, saudades
Com três cigarros e canções de alegria
Que aliviavam a culpa, traziam certezas e inevitabilidade
Mensagens enviadas a quem me esperava no fim da linha

Hoje aqui sentado novamente, repleto de cicatrizes
Pesadelos, inércia, saudades
Três cigarros e o blues que encontra meus ouvidos
E encontra em minha alma recanto para a harmônica melancólica
Culpa por ter ferido quem me espera no fim da linha

Hoje minhas três bitucas arremeçadas ao chão
Encontram as três bitucas de outrora, que a chuva ainda não levou
Nicotina, esperanças e dor sobre o mesmo asfalto quente
Ali depositadas, inertes, à minha frente
Enquanto espero pacientemente pela continuidade da viagem

A dor de quem espera é esperança
A dor de quem esquece é violência
A Parada acolhe tantos viajantes, tantos sentimentos
Que vêm e vão, mas ela nunca se esquece – nunca
De quem por ela passa e ali abandona sonhos.

[11/09/2010]

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Franco-atirador


Sujeito estranho, o tal de Cosmos
Dotado de um senso de humor inabalável
Humor negro, inconsequente
Como uma criança que brinca com uma espingarda
E aperta o gatilho sempre no pior momento

Disparo cego, trajeto incerto
Capaz de tirar tanto, causar pranto
E não há colete, não há recanto
Que proteja contra o tiro certeiro de quem não sabe atirar
Que salve do destino guiado por mira telescópica

Cosmos cínico, Cosmos faceiro
Proponho-lhe uma trégua temporária
Ergo bandeira branca, peço clemência
Apenas pela duração de um suspiro
Piedade – imploro! – nem um tiro

Só isso peço – por um instante
Repouse, perdoe, descanse
Dirija sua atenção a outro alvo
Permita que eu me sinta salvo
Mesmo que seja pela última vez

E em troca, caro franco-atirador
Te deixo minhas palavras, meu testamento
Que duram mais do que este momento
Quando em desesperado desalento
Te clamei por clemência

Mas se assim, como por acaso
Quiser garatir-me sobrexistência
Agradeço – agradeço e prometo
Ser merecedor da sua complacência
E reconhecer em tua benevolência

A Humanidade jamais ostentada por atirador algum

[10/09/2010]

Gente grande


Amor de gente grande” – conceito interessante
Palavras de quem desconhece responsabilidade
Provocações infantis, pueris, de quem se diz
Madura, vivida, adulta direita – mas desrespeita
Os valores de quem cruza o seu caminho

Criança inconsequente, intransigência personificada
Que escala sentimentos como se fossem muros
Que derruba pessoas como se fossem dominós
Que conquista corações como se fossem terrenos baldios
Trava batalhas contra inimigos imaginários, em cenários vazios

Pois a meninas mimadas leciono, ensino, insisto
Ouça a voz da experiência de quem ignora seus hormônios
Olhe para frente, pare de conversar, sente-se direito
Escute atentamente e anote cada palavra
Em seu caderno cor-de-rosa – e estude para a prova final

Gente grande não busca absolvição na fuga
Gente grande não abandona a brincadeira antes do fim
Gente grande não desrespeita os colegas de travessuras
Gente grande conhece dores, arrependimentos, amarguras
Gente grande ostenta cicatrizes – ostenta e aguenta

E você, criança boba, só ostenta a cicatriz de um joelho ralado
Amor, aprenda, deixa mais que um curativo de desenho animado

[09/09/2010]

Paz armada


Se escrevo, te relembro
Se não escrevo, te reprimo
Reprimo memórias teimosas que persistem
Persistem e resistem, resistência armada
Guerrilheira, tática, intifada

Minha alma, teu campo de batalha
Banhado em sangue de soldados valorosos
Os cartuchos dos teus tiros no meu íntimo
As marcas da tua ofensiva na minha pele
Tua artilharia pesada apontada para a minha paz

Pois não ataco e nem me rendo
Ergo minhas defesas, me resguardo
Escopeta em punho, capacete alinhado
Me mantenho atento à tua estratégia sorrateira
Atiro em quem se aproxima da minha trincheira

Mas tu não vens, tu nunca vens
Entretida em outra batalha, outra guerra
Tuas tropas já embarcam para outro continente
Tuas armas já disparam contra outro oponente
Se voltasses seria apenas, tão somente

Para recolher os despojos nas ruínas da minha existência.

[09/09/2010]

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Quase mil pedaços


Eu não me perdi e mesmo assim você me abandonou...
Me perdi de mim, me perdi em paixão, como você idealizou
Você quis partir, e agora estou sozinho
Desamparado, ludibriado, enclausurado em nossas consequências
Mas vou me acostumar... com o silêncio em casa, com um prato só na mesa
Fizeste tua mala e foste, na mesa nem uma mensagem sobre a tua certeza


Eu não me perdi,
Mas perdi a linha, perdi memórias
O Sândalo perfuma o machado que o feriu
E o cabo do machado fere as mãos que o manuseiam
Adeus, adeus, adeus meu grande amor
Leva daqui essa grandeza mirrada, esse amor premeditado

E tanto faz... de tudo o que ficou,
Essa dor excruciante, esses cacos de quem te amou
Guardo um retrato teu e a saudade mais bonita
Bonita e falsa como teu retrato recortado da revista
Eu não me perdi e mesmo assim ninguém me perdoou...
Você me encontrou e mesmo assim me condenou

Pobre coração - quando o teu estava comigo era tão bom
Bom como o éter nas narinas inebriadas que o vapor corrói
Não sei por quê acontece assim e é sem querer
E mesmo sem querer me permiti perder-me em ti 
O que não era pra ser: Vou fugir dessa dor
Vou fugir do que não foi, como fugiste do meu perdão

Meu amor, se quiseres voltar - volta não
Fica onde está, e me deixa ao menos a realidade que não te interessa
Porque me quebraste em mil pedaços
E escondeste alguns para dificultar minha remontagem

[Versos em itálico: Mil Pedaços, por Legião Urbana]

[08/09/2010]