Cá estou novamente nesta parada
A última parada, o rumo conhecido
Aqui já estive antes, e não obstante
Ostentava outros sentimentos, outra realidade
Distintos dos que me acomentem hoje sem piedade
Sentado na mesma guia, observo a mesma padaria
O sol que me açoita é o mesmo
O rosto que me assombra é o mesmo
O sentimento que experimento é tão outro
Tão outro, dolorosamente outro
Aqui sentei um dia repleto de esperanças
Sonhos, anseios, saudades
Com três cigarros e canções de alegria
Que aliviavam a culpa, traziam certezas e inevitabilidade
Mensagens enviadas a quem me esperava no fim da linha
Hoje aqui sentado novamente, repleto de cicatrizes
Pesadelos, inércia, saudades
Três cigarros e o blues que encontra meus ouvidos
E encontra em minha alma recanto para a harmônica melancólica
Culpa por ter ferido quem me espera no fim da linha
Hoje minhas três bitucas arremeçadas ao chão
Encontram as três bitucas de outrora, que a chuva ainda não levou
Nicotina, esperanças e dor sobre o mesmo asfalto quente
Ali depositadas, inertes, à minha frente
Enquanto espero pacientemente pela continuidade da viagem
A dor de quem espera é esperança
A dor de quem esquece é violência
A Parada acolhe tantos viajantes, tantos sentimentos
Que vêm e vão, mas ela nunca se esquece – nunca
De quem por ela passa e ali abandona sonhos.
[11/09/2010]
Nenhum comentário:
Postar um comentário