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sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Inferno



Não sou religioso, não sigo doutrina
Cético convicto, livre pensador
Não temo castigo ou punição divina
Mas uma certeza tu me apresentaste
O Inferno existe enfim – e é como tu o criaste


Os trinta e quatro cantos de Dante
Nove círculos e um portal, Caronte e a barca
Todos incorretos, todos fictícios
Mentiras, histórias, artifícios
Não há sombra de Inferno na Comédia


O Poço de Fogo bíblico, chamas inextinguíveis
Que lambem almas condenadas, desoladas
Lambem não – metáforas eufemizadas
Simplismo, figuração, modéstia afável
O Livro enfeita a realidade inimaginável


Morada de Hades, reino dos mortos
O Poço de Tártaro é cenário de tormentos
Inocência infantil da aurora da humanidade
Contos, lendas, tradições ancestrais
Mitologia helênica – mitos, nada mais


Amor eterno, paixão inabalável
Beijos doces em tardes de inverno
O rosto angelical do mais belo arcanjo
Promessas, juras, carinhos, momentos
A descrição idealizada em teu caderno se faz meu testamento


Círculos, chamas, poços – rascunhos distantes do sofrimento eterno
Meu anjo guardião revelado demônio zombeteiro – real Inferno
Pesadelos diários com o que outrora foi sonho belo – meu Inferno
Meu amor incondicional por tuas mentiras – incontestável Inferno
Tua frieza macabra frente meus joelhos penitentes – único Inferno


O Inferno é isso: Descobrir nunca ter tido o que se tinha de mais terno


[03/09/2010]

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