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quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Paz etílica


Bêbado, inebriado e inerte
Busco a paz de espírito nas gotas no fundo do copo
Esquecimento – busco me livrar de teus encantos
Palavras – me vêm mordazes, ferozes, sóbreas

Quando nem o álcool me traz sossego
Busco na memória teu rosto, teu sorriso
Busco e encontro – pérolas de auto-flagelação
Teu rosto à luz do álcool não me foge, me encontra

Copo cheio, mente vazia, sofrimento nutrido
Coração desassossegado, espírito perdido
Vai-se a sobriedade, vêm as memórias
Só as melhores memórias, tuas vitórias

Nossa história – o que foi real?
Tua amiga cachaça, fiel comparsa
Um dia busquei redenção em ti – me perdi!
Hoje busco na bebida amnésia merecida

Mas não – não encontro, não consigo, não escapo
Apenas reforço teus encantos, cálidos recantos
Teu rosto mais nítido, teus erros menos grave
Tua voz mais clara, teu sotaque mais envolvente

Meu copo cheio, leal inimigo 
Me trai na doçura inebiante – como você
E eu padeço, me entrego, me perco – novamente
Como tantas vezes antes, memórias quase distantes

Não confunda ética com éter” – já dizia o poeta
Hoje confundo paz com uma garrafa de alambique.

[01/09/2010] 

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