Páginas

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Anjo caído


Sou anjo caído, muito prazer
Outrora criatura divina, filho de graça e luz
Hoje filho bastardo da escuridão, da escolha
Passível de dor, falha, arrependimento
Incapaz de esquecer o bálsamo do paraíso
Incapaz de desfrutar de emoções humanas, mundanas

Cortaste minhas asas intocáveis
Fizeste travesseiro das minhas penas leves
E nele depositas tua consciência pesada
Pesada não – o arrependimento é meu, não teu
Incapaz és de perceber o que fizeste
Incapaz és de assumir teus cortes sobre meus ombros

E hoje vago por este mundo imperfeito
Sem minhas asas, sem minha graça
Sem a certeza de outrora, redenção roubada
Ser humano como os outros – não sou
Não sou humano nem sou anjo, sou obcenidade
Abominação para ambos, tua criação

Caçadora de anjos, muito prazer
O que te motiva? Não sei...
Quantas asas colecionas? Desconheço...
Onde guardas teus troféus? Segredo...
Busco em minhas perguntas tuas respostas
E só encontro a solidão de ser o que Pai nenhum criou

Para as vítimas de tua lâmina, mortalidade sofrida
Para a arrebatadora de minhas asas, mais uma conquista apenas
Saudades da minha benção, saudades das minhas penas
Da paz que de mim clamaste quando te aproximaste
Em louvor fingido, em lealdade planejada
Atendi à tua prece sem saber das tuas intenções

E caí. Caí em teus encantos, em tua humanidade desumana
Caí do paraíso, caí sem chance de retorno
Das minhas asas restaram apenas cicatrizes
Da minha graça restou apenas a saudade
Da minha perfeição imaculada, manchas do meu sangue
Do teu fervor devotado, só teu riso debochado

Aproveita tua caçada enquanto sofro minha mortalidade compelida
Pois no inferno há lugar especial aos que arrebatam anjos por brincadeira.

[07/09/2010]

Nenhum comentário:

Postar um comentário