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segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Sobre "Ses"



Se eu te escrevesse algumas linhas
Relatando meu sofrimento abominável
Pedindo notícias, sonhando palavras perdidas
Será que responderias?
Ou a leitura enfadonha da minha dor não te interessa mais?


Se eu te telefonasse sem aviso
De improviso, cedesse à saudade do teu sotaque
Buscasse tua voz uma vez mais, impulso fulgaz
Será que atenderias?
Ou tua mudez indiferente faria meus ouvidos sangrarem?


Se eu te procurasse novamente, tão somente
Para calar minha irracionalidade teimosa
Buscasse em tuas mentiras a paz falsa de outrora
Será que me receberias?
Ou darias as costas a quem se prostra em desespero latente?


Se eu estivesse disposto a te ouvir
Conhecer tuas razões, explicações, motivos
Descobrir se existiu algo, algum dia, qualquer coisa
Será que me dirias?
Ou tua verdade é tão hedionda que não pode ser partilhada?


Se eu te cedesse um lugar em minha vida
Não como antes – retorno triunfante, não obstante
Arrancasse os tapumes da porta que encerrei atrás de mim
Será que voltarias?
Ou a distância que me corrói é teu prêmio auto-proclamado?


Se eu me fizesse em poeta escapista
Libertasse em versos sentimentos enclausurados
Alforriasse minha alma com poesia reacionária
Será que te compadecerias?
Ou a poesia de quem por ti sofre alimenta tua jocosidade sombria?


Linhas, telefone, procura
Ouvidos, portas, poesia
Nada importa, teorias vazias
As respostas que conheço e renego
São as que se fariam em retumbante agonia


Teus “Ous” para os meus “Ses” – “Será” algum me darias.


[20/09/2010]

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