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domingo, 5 de setembro de 2010

O quarto


Palavras de agressão, sofrimento auto-infligido
Punições por crimes outrora cometidos
O pouco que nos resta está por um fio, desconfio
Desconfias tu também – do meu arrependimento impiedoso
Marcas já eternas – tu as queres a ferro e fogo

Sentado no corredor gelado, desolado
Te olho na cama adiante, tão distante
Insônia – os monstros não dormem
Condenação – as vítimas não perdoam
Marcas da guerra – nas almas, nos corpos

Meu cigarro de cravo, único companheiro
A brasa arde tênue, como minhas esperanças
Progressivamente diminui – minhas energias
Agride minhas estranhas – tua vingança
Marcas, cicatrizes, lembranças

Busco nas cinzas do meu cigarro o ressurgimento
Assopro a névoa doce para o lado, sopro controlado
Não quero enevoar o quarto, nosso recanto sagrado
Sagrado outrora – hoje é palco para atrocidades desmedidas
Impiedosas, mordazes, violências consentidas

Finges que dormes, finjo que poetizo
Finges que me perdoa, finjo regozijo
Perdoar o imperdoável – não podes
Teu conforto é tua vingança – tua música, minha dança
Marcas de um amor que está morrendo – eu não entendo

Não entendo – mas te observo naquele quarto
Nosso quarto, alheio à névoa do corredor
Daquele quarto desarrumado em fúria, em desamor
Os batentes separam dois mundos em torpor
Separam a névoa do meu cigarro do ar que alimenta a tua dor.

[05/09/2010]

Um comentário:

  1. A verdade rasgando o pesadelo.As dúvidas rondando...A dor corroendo.. Asssim vamos sofrendo!
    Belo poema. Lindo poetar

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