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terça-feira, 7 de setembro de 2010

Queda livre


Saltar de realidade em realidade
Contrato irrevogável assinado por todos
Do primeiro abrir ao último fechar de olhos
Mudanças, páginas viradas, términos e recomeços
Perdas e ganhos – coisas da vida, de toda vida vivida

Nada dura para sempre – fato incontestável
Ficam as lembranças, saudades de outrora
Aquele riso, aquele momento eternizado
Aquele cerrar de olhos calado, disfarçado
E ainda assim tão eloquente, displicente

Mas quando o paraíso rui, as histórias terminam
Quando não há mais nada, e outra história cativa
Quando surge outra realidade mais convidativa
Quando o fim é iminente, encontra a gente
Não há escapatória – apenas memória persistente

Acreditar que tudo foi um sonho, sonhado a dois
Acordamos, enfim –  valeu a pena ainda assim
Um passado saudoso que não volta, nos engrandece
Experiências vividas e compartilhadas
Vai-se o sonho, ficam as memórias mais belas

Saltar da ilusão para a realidade
Não há alma preparada para superar o que nunca foi
Castigo cruel, vazio dilacerante
Perde-se apenas – não resta consolo, conforto
Morre-se duas vezes – perde-se o presente e o passado

Restam saudades do que não existiu
Memórias plantadas com sementes de mentira
Risos falsos, momentos fingidos
Não há fim para história assim, não para mim
Não há sentido para amor fingido

Choque de realidade como este não há
De conhecer o que não se sabia existir
De sentir o que ninguém jamais sentiu
De ser levado ao paraíso, e de lá arrebatado
Por mãos hábeis, garras em luvas de pelica

Da ilusão perfeita que se fez concreta
À realidade fria, imperfeita, felicidade incompleta
Salto como este é ser jogado no abismo mais escuro
Abismo sem memórias, sem história, sem fundo
E eu só caio, e sinto a dor da inércia sobre meu corpo

Ilusão bela como esta é dor eterna, livro sem final
É ter para sempre a realidade como rascunho do que poderia ser.

[07/09/2010]

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