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sábado, 18 de setembro de 2010

Pensamentos de rádio


Há dias em que você volta
Senão em sonho, em memória persistente
Em dias assim, nem a música me distrai – ela me trai
Me traz mais lembranças que conforto, me traz você
Quando o rádio se alia à sua insanidade, minha obsessão

Joan Baez nota meu desespero quando percebo sua presença
Well I'll be damned, here comes your ghost again
But that's not unusual, it's just that the moon is full
Fantasma teimoso que insiste em não me deixar
O tempo que não passa, sua face me ameaça

Devo fugir, devo esquecer
De você, de nós, de tudo
Devo deixar para trás o que nunca foi
Mas como, quando até as canções – minhas amigas
Se fazem cantigas da nossa ciranda?

Renato Russo me dá razão sobre a paixão
A paixão já passou em minha vida
Foi até bom mas ao final deu tudo errado
Mas tudo agora é coisa do passado
Mas não, não quero estar apaixonado

Não quero, não devo, não posso
Busco apenas paz, quero apenas sua ausência
E espero, luto, peço clemência
Cadência lenta, indecência
Sua paixão indecente não se apressa em me deixar

E mesmo quando Cazuza chama, me proclama
Que “O teu amor é uma mentira
Que a minha vaidade quer
E o meu, poesia de cego
Você não pode ver

Mesmo então eu imagino se não poderia
Ter sido diferente, ter restado algo da gente
Amizade, carinho, compaixão – não
Cazuza sabia da sua diversão patológica
Destruir vidas, roubar corações – brincadeira ilógica

Mas aprendi com você, mentora cruel
O nosso amor a gente inventa, pra se distrair
E quando acaba a gente pensa que ele nunca existiu
E te peço do fundo da alma que me deixe
A distração acabou, nada mais restou – não era pra ser

O que não era pra ser: Vou fugir dessa dor.
Meu amor, se quiseres voltar - volta não
Porque me quebraste em mil pedaços.”

[18/09/2010]

[Trechos em itálico respectivamente extraídos de: "Diamonds & Rust" (Joan Baez), "Longe do Meu Lado" (Legião Urbana), "O Nosso Amor a Gente Inventa" (Cazuza)"Mil Pedaços" (Legião Urbana)]

Um comentário:

  1. Acredite que "esse amor seja uma mentira que a tua vaidade quer" - Liberte-se. Não se pode amar o que nunca existiu. Lindo poema. Bjs

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