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domingo, 22 de agosto de 2010

Dois amores



Lembro de quando nos conhecemos
Seu sorriso, as tardes, meu choro no teu colo
O amor brotou daí. Inevitável, atropelado, intransigente
Chegou sem pedir licença, de mala e cuia – e ficou
Como e fosse dono da casa, dono do mundo


Lembro de quando nos conhecemos
Seu olhar, as confidências, meu riso nas pontas dos dedos
O amor brotou daí. Inevitável, impróprio, tímido
Chegou pedindo licença, e foi ficando... ficando...
Como se fosse visita, como se fosse coadjuvante


Hoje, seu amor me consome
Me obriga, me prende, me afasta
Você me vê como um velho sábio
Dono de todas as respostas, dono do seu sofrimento
Capaz de mover o céu e a terra para solucionar o mundo
Capaz de prometer rios e montanhas
E eu só me sinto impotente, maduro
Inadequado, seguro


Hoje, seu amor me consome
Me ampara, me solta, me traga
Você e vê como um menino-homem
Que teme suas respostas, que teme o seu sofrimento
Incapaz de mover meu próprio mundo
Incapaz de prometer qualquer coisa
E eu só me sinto impotente, imaturo
Acuado, ameaçado


Amores meus
Não sei versar, não sou poeta
Não sou sábio, não sou menino
Não tenho respostas, não tenho certezas
Sei amar do meu jeito
Exclusivamente abrangente
Completamente incompleto
Deterministicamente ambíguo
Eloquentemente calado
Sou prisioneiro da minha própria liberdade
Sou vítima de meu próprio crime
Sou razão, sentimento
Sou palavra, sou silêncio
Um Silêncio ensurdecedor


E que desse Silêncio se faça Poesia


[17/08/2010]

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